Halloween, o que é?

                  Nos últimos anos, começou a fazer furor entre os mediterrâneos e latino-americanos que esquecem suas próprias e ricas tradições para adotar a abóbora iluminada. No Hallowe’em (do All hallow’s eve), literalmente a Véspera de Todos os Santos, a lenda anglo-saxônica diz que é fácil ver bruxas e fantasmas. Os meninos se disfarçam e vão - com uma vela introduzida em uma abóbora esvaziada em que se fazem incisões para formar uma caveira - de casa em casa. Quando se abre a porta gritam: “trick or treat” (doces ou travessuras) para indicar que farão uma brincadeira de mau gosto a quem não os dê uma espécie de gorjeta em guloseimas ou dinheiro.
        Uma antiga lenda irlandesa narra que a abóbora iluminada seria a cara de um tal “Jack Ou’Lantern” que, na noite de Todos os Santos, convidou ao diabo a beber em sua casa, fingindo ser um bom cristão. Como era um homem dissoluto, acabou no inferno.
         Muitos se disfarçam de mortos ou usam máscaras de caveiras e se consomem doces em forma de crânio ou de esqueleto. Neste sentido, os bispos de duas dioceses mexicanas vizinhas aos Estados Unidos, Sonora e Sinaloa, chamaram a atenção sobre a influência americana que faz perder as tradições nativa e inca ao consumismo e a imitar uma tradição que hoje é mais pagã que cristã. O arcebispo do Hermosillo, José Ulises Macías, disse que “os mexicanos devem arraigar a nossos próprios costumes que são ricos e divertidos, pois cada nação tem suas festividades de acordo a seus sucessos históricos e sociais”. Em todas estas representações ritos e lembranças vive um desejo inconsciente, mas bem pagão, de exorcizar o medo à morte. O mito antigo do retorno dos mortos, converteu-se hoje em fantasmas ou dráculas com efeitos especiais nos filmes de terror. Entretanto, para os cristãos é a festa de Todos os Santos a que verdadeiramente tem relevância e reflete a fé no futuro de quem espera e vive segundo o Evangelho pregado por Jesus. É o que sublinhou o beato João Paulo II, em sua catequese. O respeito aos restos mortais de quem morreu na fé e sua lembrança inscreve-se na veneração de quem tem sido “templos do Espírito Santo”.
          Como assegura Bruno Forte, professor da Faculdade teológica de Nápoles, ao contrário de quem não acredita na dignidade pessoal e desvaloriza a vida presente acreditando em futuras reencarnações, o cristão tem “uma visão nas antípodas”, visão oposta, já que “o valor da pessoa humana é absoluto”. É alheia também ao dualismo herdado de Platão que separa o corpo e a alma. “Este dualismo e o conseguinte desprezo do corpo e da sexualidade não forma parte do Novo Testamento para o qual a pessoa depois da morte segue vivendo tanto quanto é amada por Deus”. Deus, acrescenta o teólogo, “não tem necessidade dos ossos e de um pouco de pó para nos fazer ressuscitar. Quero sublinhar que em uma época de “pensamento débil” em que se sustenta que tudo se reduz a nada, é significativo afirmar a dignidade do fragmento que é cada vida humana e seu destino eterno.”

Do livro "O Teólogo Responde", Pe.Miguel Fuentes.